1. Celebra-se hoje o 25 de abril de 1974. Tal comemoração permanece incompleta enquanto se não celebrar condignamente o 25 de novembro de 1975. Esta, a minha convicção.

Fez-se o 25 de abril para democratizar, descolonizar, desenvolver. A pureza destes ideais foi deturpada durante o chamado Processo Revolucionário em Curso (PREC). Repô-la o 25 de novembro de 1975. Este veio impedir que à ditadura do Estado Novo tivesse sucedido uma ditadura de cariz marxista.

Durante o referido PREC cometeram-se graves desmandos que é bom não esquecer, para que se não repitam. E a gente nova deve disso tomar conhecimento.


2. Quando se fala dos excessos há quem seja lesto em recordar os que tiveram por autoria gente da extrema direita, que foram uma realidade. Recorde-se o roubo do tesouro de Nossa Senhora da Oliveira em Guimarães, os ataques a sedes do Partido Comunista e do MDP/CDE, as bombas postas em Braga na antiga Casa da Mocidade e em sedes de sindicatos na Rua de S. Marcos.

Há, no entanto, um conjunto de factos que pretendem esquecer. Lembro, alguns. Só alguns.

Quem disse, numa entrevista à jornalista italiana Oriana Falacci, opor-se a que em Portugal houvesse uma democracia pluralista?

Quem fez tudo para implantar em Portugal uma República popular, pretendendo que Portugal fosse uma espécie de Cuba na Europa?

Quem tudo fez para tentar impor a unicidade sindical?

Quem cercou o Governo de Pinheiro de Azevedo?

Quem cercou a Assembleia Constituinte, impedindo os deputados de saírem da Assembleia da República?

Quem ameaçou meter os opositores no Campo Pequeno?

Quem assinou em branco mandados de captura?

Quem e porquê promoveu as prisões que se seguiram ao 28 de setembro e ao 11 de março?

Quem promoveu detenções por longos períodos de tempo sem que se tivesse chegado a organizar qualquer processo, permanecendo os detidos em estado de completo abandono e esquecimento?

Quem promoveu as brigadas populares que se atribuíram o poder de fiscalizar as viaturas de quem lhes convinha?

Quem promoveu, em 18 de junho de 1975, o cerco ao Patriarcado Lisboa?

Quem assaltou sedes do CDS em Lisboa e em Braga?

Quem promoveu o cerco a um congresso do CDS no Palácio de Cristal, no Porto?

Quem quis silenciar a Rádio Renascença e pôs uma bomba no posto emissor da Buraca?

Quem mandou meter no forte de Caxias três trabalhadores daquela estação emissora que se mantinham fiéis à Igreja?

Quem ocupou as instalações do jornal «República» e expulsou o seu diretor, o socialista Raul Rego?

Quem pressionou os tipógrafos da Gráfica de Coimbra para não imprimirem aquele jornal?

Quem exigiu que o arcebispo de Braga, D. Francisco Maria da Silva, a caminho de um congresso no Brasil, se pusesse em cuecas no aeroporto de Lisboa?

Quem e para quê promoveu as campanhas de alfabetização?

Quem promoveu os saneamentos selvagens?

Quem disparou contra os azulejos situados ao lado do portão de entrada da Casa Episcopal de Braga, na Rua de Santa Margarida?

Estas e outras que poderia enumerar formam um conjunto de questões incómodas para certa esquerda a quem convém se não celebre o 25 de novembro.


3. No livro «Memórias» (3.ª edição 2021, pag. 270-272) Francisco Pinto Balsemão escreve que «se o 25 de novembro não tivesse corrido como correu não teria havido Constituição em 1976» e esta permitiu o arranque para a democracia. «O 25 de novembro, escreve também, abriu caminho para uma era mais democrática, mais livre e mais justa. Estamos, sem qualquer dúvida, muito melhor do que estaríamos se, em pouco tempo, tivéssemos saltado, em 1974, de uma detestável ditadura de direita para uma não menos detestável ditadura de esquerda, em 1975».

Se hoje vivemos uma democracia pluralista e estamos integrados na União Europeia é porque o 25 de novembro travou a caminhada desastrosa do PREC.

QOSHE - 25 de abril e 25 de novembro - Silva Araújo
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25 de abril e 25 de novembro

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25.04.2024

1. Celebra-se hoje o 25 de abril de 1974. Tal comemoração permanece incompleta enquanto se não celebrar condignamente o 25 de novembro de 1975. Esta, a minha convicção.

Fez-se o 25 de abril para democratizar, descolonizar, desenvolver. A pureza destes ideais foi deturpada durante o chamado Processo Revolucionário em Curso (PREC). Repô-la o 25 de novembro de 1975. Este veio impedir que à ditadura do Estado Novo tivesse sucedido uma ditadura de cariz marxista.

Durante o referido PREC cometeram-se graves desmandos que é bom não esquecer, para que se não repitam. E a gente nova deve disso tomar conhecimento.


2. Quando se fala dos excessos há quem seja lesto em recordar os que tiveram por autoria gente da extrema direita, que foram uma realidade. Recorde-se o roubo do tesouro de Nossa Senhora da Oliveira em Guimarães, os ataques a sedes do Partido Comunista e do MDP/CDE, as bombas postas em Braga na antiga Casa da Mocidade e em sedes de sindicatos na Rua de S.........

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