Tendo em conta os resultados das eleições legislativas do passado dia 10, importa refletir sobre as transformações presentes na sociedade portuguesa.

Se a votação no partido Chega (CH) espelha bem a grande metamorfose que está a acontecer, há outros sinais que evidenciam esta grande mudança.

De facto, há outras evidências que apoiam esta clara alteração em curso.

O apagamento progressivo do Partido Comunista (PCP) no Alentejo e a viragem à direita no distrito de Setúbal, uma região classicamente de esquerda, são dados relevantes que merecem uma análise profunda e descomprometida.

Como explicar tamanhas alterações?

No que se refere ao expressivo escrutínio no partido de André Ventura, acredito que se deveu ao seu carisma e, fundamentalmente, à insatisfação de largas franjas da população. Acredito que nestas franjas se incluem, entre outras, forças de segurança, militares, professores e estudantes para quem as expectativas foram sendo sucessivamente adiadas pelos governos do Partido Socialista (PS).

De um modo mais genérico, julgo que as inúmeras trapalhadas que envolveram muitos dos governantes nos últimos dois anos, onde se incluem demissões em ritmo nunca visto e acusações de diversa grandeza, promoveram o descrédito da classe política levando a um expressivo voto de protesto. Penso que terão sido estas as razões fundamentais da derrota do PS e da descida acentuada da sua votação.

No que concerne à progressiva perda de influência do PCP, admito que se deve essencialmente ao seu fechamento em premissas do passado e à falta de modernização do seu programa, necessitando de o adaptar às realidades do tempo presente, sob pena de caminhar para a irrelevância.

Já no que diz respeito à subida expressiva do Livre, ela não é mais do que a expressão da vontade romântica e até poética de quantos anseiam por um mundo mais ecológico e verde, mas incompatível com a realidade que nos cerca.

Em relação às outras forças políticas mais pequenas, pouco há a destacar e a sua expressão pode resumir-se à luta pela manutenção dos seus scores eleitorais, destacando-se nesta disputa a votação alcançada pela Iniciativa Liberal (IL) e pelo Bloco de Esquerda (BE) que conservaram a sua representação parlamentar.

Quanto à vitória da Aliança Democrática (coligação de PSD+CDS+PPM), apesar de longe da maioria absoluta, não deixa de constituir um feito, sobretudo depois de se constatar a percentagem de votos alcançada pelo Chega.

É uma vitória do querer e da perseverança.

Do querer de quem quer mudar Portugal e da firmeza de quantos acreditam que é possível fazer mais e melhor pelo povo português.

Uma vitória que vai exigir competência, trabalho e audácia para no mais curto espaço temporal resolver dossiers tão importantes como a pacificação das forças de segurança, a crise nas escolas, o funcionamento dos tribunais e os problemas mais urgentes na saúde.

É uma herança pesada que exige disponibilidade, capacidade de diálogo, senso e mestria na arte de negociar.

É urgente pacificar as instituições e devolver-lhes a normalidade para que possam desempenhar cabalmente as suas missões.

É urgente libertar a sociedade portuguesa da agressividade e da angústia.

É urgente devolver a esperança ao povo português para que possa acreditar num futuro melhor.

É uma tarefa ciclópica que exige coragem e audácia mas, como bem diz o provérbio popular, “dos fracos não reza a história”.

Têm a palavra Luís Montenegro, certamente o próximo Primeiro-ministro de Portugal, e quantos o irão acompanhar.

Neste 19 de março, quando se assinala o Dia do Pai e o Dia de São José, ousemos cogitar sobre as transformações sociais que podemos constatar.

No exemplo de José de Nazaré, reflitamos sobre o papel do pai, da família, nos males que enfraquecem a sociedade atual e nos meios necessários para os combater. E que ninguém se abstenha de ser um agente ativo na construção de um país mais fraterno, mais justo e mais solidário.

QOSHE - Eleições legislativas, em jeito de rescaldo - J. M. Gonçalves De Oliveira
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Eleições legislativas, em jeito de rescaldo

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19.03.2024

Tendo em conta os resultados das eleições legislativas do passado dia 10, importa refletir sobre as transformações presentes na sociedade portuguesa.

Se a votação no partido Chega (CH) espelha bem a grande metamorfose que está a acontecer, há outros sinais que evidenciam esta grande mudança.

De facto, há outras evidências que apoiam esta clara alteração em curso.

O apagamento progressivo do Partido Comunista (PCP) no Alentejo e a viragem à direita no distrito de Setúbal, uma região classicamente de esquerda, são dados relevantes que merecem uma análise profunda e descomprometida.

Como explicar tamanhas alterações?

No que se refere ao expressivo escrutínio no partido de André Ventura, acredito que se deveu ao seu carisma e, fundamentalmente, à insatisfação de largas franjas da população. Acredito que nestas franjas se incluem, entre outras, forças de segurança, militares, professores e estudantes para quem as expectativas foram sendo sucessivamente adiadas pelos governos........

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