Numa sociedade bem organizada tem lugar fundamental a ação dos prestadores de bens e serviços, bem como dos seus utilizadores; e, quer aqueles, quer estes são a base, o suporte da galvanização do dia-a-dia equilibrado e próspero da vida social.

Todavia, a esta atividade indispensável ao viver comunitário inerentes são exigências de colaboração, entendimento e solidariedade comuns; e esta dinâmica traduz, cria e reforça condições de bem-estar, segurança e felicidade do coletivo social.

Pois bem, para além desta dupla prestador/utilizador de bens e serviços mobilizadora da vida social e, sobretudo, impulsionadora de justiça e ética do seu trabalho, há um sem número de atores e agentes sociais que transcende a sua mera função de prestadores de bens e serviços; e este grupo social pauta-se e afirma-se por forte e profundo desejo de sempre acrescentar aos serviços prestados a aura de plena disponibilidade, conforto e afeto dispensados aos utilizadores.

Refiro-me, concretamente, aos prestadores de bens e serviços em unidades de saúde, estruturas residenciais para pessoas idosas, instituições de solidariedade social, prisões, quartéis, diáspora, etc.etc. etc.; pois, para além do melhor serviço que prestam aos seus utentes, sempre o fazem acompanhar de uma palavra amiga e doce, de ações de compreensão e estima, de atitudes de força moral e de esperança motivadoras e estimulantes.

Lembro-me, frequentemente, de um bom Amigo, já falecido, que todos os dias se deslocava a pé, do centro da cidade onde residia, até à freguesia de Nogueiró para visitar um amigo acamado; e, para além da visita de amizade não dispensava fazer-se acompanhar do jornal diário de que o amigo tanto gostava para, junto do seu leito, fazer a leitura das rubricas que ele mais apreciava e sempre com inteiro gosto e disponibilidade.

Agora, nesta mesma ótica de prestação de bens e serviços em unidades especificas onde os gestos de humanidade e tratamento seletivo são reclamados, vem-me à lembrança uma classe um tanto esquecida em termos de reconhecimento, compensação e aclamação públicos por quem de direito e, até, pela sociedade em geral; obviamente me refiro aos padres-capelães hospitalares que, para além dos serviços religiosos que prestam eles são mensageiros de paz, esperança, conforto e amor para com os doentes hospitalizados.

E sei do que falo, porque das hospitalizações a que fui sujeito sempre guardo uma afetuosa e inesquecível recordação dos sacerdotes que me visitavam diariamente; pois, sempre ao meu leito de doente levavam palavras de conforto, apoio moral e psicológico, coragem, afeto e esperança, acompanhados de grande simpatia e que muito me ajudavam a carregar a cruz da doença com maior resignação e menos sofrimento.

Pois bem, não tenho conhecimento de alguma vez ter havido jus ao reconhecimento, agradecimento e louvor público que lhes cabem por quem dirige, executa e governa; e na homenagem justa que lhes tivesse chegado, se mais não fora, cabia bem, pelo menos, uma palavra laudatória que sublinhasse a lembrança e o agradecimento públicos que merecem, já que, para além dos serviços religiosos prestados aos doentes que os solicitem e desejem, estes sacerdotes lhes levam, o despretensioso conforto físico, humano e psicológico, quais formiguinhas em trabalho incansável sem esperar recompensa seja qual for e a que preço.

Depois, quando vejo centenas, milhares de comendas, medalhas e demais agraciações atribuídas a políticos e outros cidadãos, a torto-e-a-direito, muitas vezes não passando de louvaminhas e gestos de compadrio e amiguismo, lembro-me logo dos versos de uma canção muito popular que reza assim: condecoro o presidente/ e sabem por que razão/ porque deu a tanta gente/ tanta condecoração.

E, assim sendo, caso é para dizer como o sapateiro de Braga: ou comem todos ou haja moralidade; e eu acrescento: a ver vamos se alguma vez ela virá.

Então, até de hoje a oito.

QOSHE - Capelães hospitalares - Dinis Salgado
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Capelães hospitalares

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17.01.2024

Numa sociedade bem organizada tem lugar fundamental a ação dos prestadores de bens e serviços, bem como dos seus utilizadores; e, quer aqueles, quer estes são a base, o suporte da galvanização do dia-a-dia equilibrado e próspero da vida social.

Todavia, a esta atividade indispensável ao viver comunitário inerentes são exigências de colaboração, entendimento e solidariedade comuns; e esta dinâmica traduz, cria e reforça condições de bem-estar, segurança e felicidade do coletivo social.

Pois bem, para além desta dupla prestador/utilizador de bens e serviços mobilizadora da vida social e, sobretudo, impulsionadora de justiça e ética do seu trabalho, há um sem número de atores e agentes sociais que transcende a sua mera função de prestadores de bens e serviços; e este grupo social pauta-se e afirma-se por forte e profundo desejo de sempre acrescentar aos serviços prestados a aura de plena disponibilidade, conforto e afeto dispensados aos utilizadores.

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