As campanhas eleitorais sempre têm sido palco de lavagem de roupa suja e de má-língua; e da intriga negativa à crítica mordaz da atuação política muito tempo e vocabulário se perde sem proveito e alcance para o esclarecimento e informação do eleitorado.

E a prática desta linguagem transforma as campanhas eleitorais em autênticas sessões de passa-culpas e brejeirice que se volta com maior ênfase contra quem a promove do que contra aqueles a quem se dirige; e, tal como diz o povo na sua imensa e milenar sabedoria, assim se vira o feitiço contra o feiticeiro, dando como resultado um evidente desaire eleitoral.

Pois bem, se neste país de brandos costume e módica e doce linguagem isto acontece, fácil é concluirmos que estas campanhas eleitorais pouco esclarecem e em nada ajudam os eleitores na sua escolha política e, pelo contrário, acabam antes por confundir e, assim, promover o crescimento da abstenção e desilusão do eleitorado que não comunga desses princípios de escárnio e maldizer.

E se nos últimos atos eleitorais a abstenção às urnas tem aumentado preocupantemente, para além de outros fatores que para tal concorrem, a imoderada, a desbragada e a feroz linguagem utilizada nas campanhas eleitorais é um poderoso empurrão para o descrédito, a desmotivação e o virar de costas às urnas, pois, claramente, cada vez mais os nossos políticos menos qualidades de liderança, de prática e de formação política possuem.

E desta forma a nossa Democracia perde qualidade, autenticidade, objetividade e verdade; e, então, facilmente acontecem e se propagam os fenómenos de corrupção, de demagogia, de oportunismo, de falsas promessas e de imprópria promoção pessoal que são os meios mais fáceis de praticar a injustiça social, a prepotência dos mais poderosos contra os mais fracos e, obviamente, do falhanço da vida democrática.

Agora, quando constatamos por essa Europa fora o avanço de partidos e formações políticas extremistas, populistas, xenófobas e racistas, é tempo de tudo fazermos para que no nosso país cerremos fileiras contra esse avanço que já começa a manifestar-se cá por casa e para que tal aconteça não é, seguramente, com campanhas eleitorais tão pouco dignas, esclarecedoras e pedagógicas politicamente que o conseguiremos.

Por exemplo, um partido que pode tirar dividendos eleitorais de campanhas deste jaez é o Chega que aparece na atual campanha eleitoral com uma linguagem muito moderada e, até, esclarecedora relativamente à ideologia que professa; e quando a esquerda e a extrema-esquerda e os restantes partidos não deixam de o atacar e desprezar, mal sabem ou não querem saber a promoção que, assim, lhe fazem e, inclusive, o aumento de votos nas urnas que lhe proporcionam.

É que tendo o país caído no pântano económico-social em que ainda se encontra com a queda do governo maioritário de António Costa devido a casos de corrupção, compadrio e favoritismos escandalosos, o povo facilmente vai atrás de quem lhe fala a linguagem, mesmo que viciada, da correção, da impunidade e do afastamento de quem se aproveita, indevidamente da democracia para fins indignos, então, seria melhor usar a campanha eleitoral para corrigir erros, traçar rumos certos e lançar projetos de futuro sólidos, economicamente e socialmente, do que chamar fantasmas, utilizar linguagens perversas e acusações despropositadas e criar cenários à volta de ações políticas e formas ideológicas passadas que não mais se hão de repetir.

E, igualmente, pedir perdão ao povo pelo desencanto, desmotivação e descrédito em que caiu, seja na política e nos políticos, seja nas instituições e por força da hipocrisia, da demagogia, dos ataques mútuos, da falta de capacidade de liderança e da seriedade de propostas das governações reinantes assim, motivo mais do que suficiente este será para que a campanha eleitoral decorra com moderação, seriedade, rigor, qualidade e fiabilidade; porque, se ela continuar com linguagem tão desbragada, imprópria e caceteira, não alcança os resultados que o povo almeja e acaba por se transformar no Cavalo de Troia do seu desencanto e desilusão para os seus anseios tão desejados e justos de uma vida melhor para todos.

Então, até de hoje a oito.

QOSHE - A caminho das urnas 3 - A linguagem dos candidatos - Dinis Salgado
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A caminho das urnas 3 - A linguagem dos candidatos

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21.02.2024

As campanhas eleitorais sempre têm sido palco de lavagem de roupa suja e de má-língua; e da intriga negativa à crítica mordaz da atuação política muito tempo e vocabulário se perde sem proveito e alcance para o esclarecimento e informação do eleitorado.

E a prática desta linguagem transforma as campanhas eleitorais em autênticas sessões de passa-culpas e brejeirice que se volta com maior ênfase contra quem a promove do que contra aqueles a quem se dirige; e, tal como diz o povo na sua imensa e milenar sabedoria, assim se vira o feitiço contra o feiticeiro, dando como resultado um evidente desaire eleitoral.

Pois bem, se neste país de brandos costume e módica e doce linguagem isto acontece, fácil é concluirmos que estas campanhas eleitorais pouco esclarecem e em nada ajudam os eleitores na sua escolha política e, pelo contrário, acabam antes por confundir e, assim, promover o crescimento da abstenção e desilusão do eleitorado que não comunga desses princípios de escárnio e maldizer.

E se nos últimos atos eleitorais a abstenção........

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