Este é o momento em que, como nos outros, afirmamos que o próximo ano é pleno de desafios. No plano político, até 6 de novembro passado, o ato mais significativo previsto para 2024 seria as eleições europeias. Mas a apresentação da demissão por Costa no dia 7 desse mês alteraria por completo o calendário político-partidário, de modo que pode concluir-se que foi mais intensa a atividade nesta área no último mês e meio que no restante do ano e que as eleições primordiais serão as legislativas de março.

A eleição de Pedro Nuno Santos como líder do PS aporta consequências para o panorama nacional, tendo em conta que o seu alinhamento no próprio partido é bem mais à esquerda do que o do seu antecessor. A votação tem repercussões também a nível local. No distrito de Braga, dois presidentes de câmara eleitos pela primeira vez nas últimas autárquicas tiveram opções diferentes, Frederico Castro da Póvoa de Lanhoso apoiou Nuno Santos e Antero Barbosa deu o seu voto a José Luis Carneiro. Mas considerando que a diferença que separou a votação nos candidatos no distrito foi inferior à nacional, respetivamente 12% e 26%, pode dizer-se que as duas personalidades saem com o seu prestígio reforçado dentro e fora do partido. Em Braga, Pedro Sousa, o principal apoiante do vencedor, ganha destaque local, podendo escolher ser deputado ou candidato a presidente da Câmara Municipal ou, pelo menos, ter voz muito ativa na sua escolha.

As legislativas do próximo ano afiguram-se de desfecho complexo. Montenegro fixou as regras do PSD, só forma governo se ganhar e sem acordo com o Chega. No PS do novo líder não há dúvidas que governará com uma nova gerigonça. O problema são os resultados para que apontam as sondagens, que se dividem entre as que preveem a vitória do PS ou do PSD, num cenário parlamentar de maioria de direita, incluindo o Chega. Falta que os partidos do arco de governação expliquem o que farão neste quadro. O que fará o PSD se ganhar as eleições, mas precisar do Chega para assegurar a maioria absoluta dos deputados? O que fará o PS se ganhar as eleições, mas com uma minoria de representantes da esquerda na Assembleia da República?

No plano internacional o ano de 2024 é muito desafiante, na pendência de duas guerras impactantes para todo o Mundo. A evolução da situação entre Israel e o Hamas não tem fim à vista. Longe vão os tempos da guerra dos seis dias, onde em menos de uma semana, entre 5 e 10 de junho de 1967, combatendo contra o poderoso Egito e a Jordânia, o Estado judaico triplicou o seu domínio territorial: o Egito perdeu a Faixa de Gaza e a Península do Sinai; a Síria foi amputada das colinas de Golã, e a Jordânia perdeu a Cisjordânia e Jerusalém Oriental, destacando-se o significado simbólico da captura da Cidade Velha de Jerusalém. O objetivo da luta ao terrorismo é totalmente legítimo, mas Israel não pode ser insensível à miséria, à destruição de famílias, velhos e crianças indefesas, a um povo palestiniano em sofrimento. Quanto à invasão da Ucrânia pela Rússia nota-se um cansaço interpartes e na opinião pública. A Rússia enganou-se quanto à capacidade de resistência do Estado ucraniano e da união dos países ocidentais na sua defesa. Mais recentemente, parece ter sido o Ocidente a acreditar erradamente na incompetência da Rússia para aguentar a contraofensiva. Tal como no xadrez, as nações deviam preparar-se para declarar o empate e alcançarem um acordo de paz.

A nível pessoal é também a altura em que pensamos no que queremos pôr em prática no ano seguinte, as chamadas resoluções do ano novo. Passar mais tempo com a família, viajar mais, ganhar e poupar mais dinheiro, voltar a estudar, iniciar projetos, fazer exercício físico, cuidar melhor da saúde, dar um novo rumo à vida profissional. Este é o elenco típico tirado de qualquer revista, mas que no fundo resume o que a maioria pensa a dias do fim do ano. Não se lê em geral a proposta para sermos melhores pessoas, fazermos o bem, santificar a vida no nosso quotidiano. O que é certo é que no final do ano de 2024 repetiremos os desejos sem os ter cumprido na sua maioria durante esse ano. Um estudo, citado pela Cordis / Comissão Europeia, de cerca de 800 milhões de atividades realizado pela aplicação de fitness Strava, prevê que quase 80% das pessoas que tomam uma resolução de Ano Novo irão abandoná-la até 19 de janeiro. Ano Novo, Vida Nova, ou talvez não.

QOSHE - Vida nova ou talvez não - Carlos Vilas Boas
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Vida nova ou talvez não

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28.12.2023

Este é o momento em que, como nos outros, afirmamos que o próximo ano é pleno de desafios. No plano político, até 6 de novembro passado, o ato mais significativo previsto para 2024 seria as eleições europeias. Mas a apresentação da demissão por Costa no dia 7 desse mês alteraria por completo o calendário político-partidário, de modo que pode concluir-se que foi mais intensa a atividade nesta área no último mês e meio que no restante do ano e que as eleições primordiais serão as legislativas de março.

A eleição de Pedro Nuno Santos como líder do PS aporta consequências para o panorama nacional, tendo em conta que o seu alinhamento no próprio partido é bem mais à esquerda do que o do seu antecessor. A votação tem repercussões também a nível local. No distrito de Braga, dois presidentes de câmara eleitos pela primeira vez nas últimas autárquicas tiveram opções diferentes, Frederico Castro da Póvoa de Lanhoso apoiou Nuno Santos e Antero Barbosa deu o seu voto a José Luis Carneiro. Mas considerando que a diferença que separou a votação nos candidatos no distrito foi inferior........

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