Uma plataforma streaming colocou em exibição um documentário sobre a vida de Alexandre, o Grande, o Magno lendário como um herói clássico no molde de Aquiles, aparecendo com destaque nas culturas gregas e não gregas, classificado entre os mais influentes de todos os tempos, fundador de cerca de vinte cidades que levavam o seu nome, principalmente Alexandria, no Egito, rei da Macedónia, imperador da Pérsia e faraó do Egito, estas através de tumultuosas conquistas militares.

Todavia, Murray Rothbard, no livro “…An Austrian Perspective on the History of Economic Though”, I, p 35, interpreta que Santo Agostinho reafirmou a parábola de Cícero que mostrava que ele era pouco mais do que um líder de um bando de ladrões: "Afastada a justiça, que são, na verdade, os reinos senão grandes quadrilhas de ladrões? Que são, na verdade, as quadrilhas de ladrões senão pequenos reinos? Estas são bandos de gente que se submete ao comando de um chefe, que se vincula por um pacto social e reparte a presa segundo a lei por ela aceite. Se este mal for engrossando pela afluência de numerosos homens perdidos, a ponto de ocuparem territórios, constituírem sedes, ocuparem cidades e subjugarem povos arroga-se então abertamente o título de reino, título que lhe confere aos olhos de todos, não a renúncia à cupidez, mas a garantia da impunidade. Foi o que com finura e verdade respondeu a Alexandre Magno certo pirata que tinha sido aprisionado. De facto, quando o rei perguntou ao homem que lhe parecia isso de infestar os mares, respondeu ele com franca audácia: «O mesmo que a ti parece isso de infestar todo o mundo; mas a mim, porque o faço com um pequeno navio, chamam-me ladrão; e a ti porque o fazes com uma grande armada, chamam-te imperador'" (“A Cidade de Deus”, I, Livro IV, cap. IV, p. 383, Fundação Gulbenkian).

O político romano e o Doutor da Igreja, séculos antes da implementação das teses marxistas por Lenine e Estaline, já as haviam derrotado! Mas o duo de sábios não rejeitava o Estado, posto que o detentor do poder governasse segundo os princípios da ética, da moralidade e da justiça e contribuísse para a felicidade do povo. Em Cícero a “res publica” é a “res populi”.

Rothbard foi um importante liberal do século passado, com argumentos favoráveis às soluções do mercado livre para os mais diversos aspetos da vida em sociedade, teórico do anarco-capitalismo, que definia o Estado como uma organização que adquire os seus rendimentos através de coerção física (impostos) e exerce um monopólio compulsório do uso da força e do poder de tomada de decisões finais numa determinada extensão territorial, atividades essenciais do Estado que constituiriam agressão criminosa e devastação dos justos direitos de propriedade privada de seus súbditos.

O movimento liberal readquiriu força nos últimos anos em Portugal, não direi que por herança do pensamento de Rothbard ou do seu mentor Ludwig von Mises, tendo como ideia chave a baixa de impostos. De repente, até parece que todos os partidos em Portugal são liberais, pois em pré-campanha todos advogam a descida da tributação fiscal. O mercado desregulamentado é uma mensagem que agrada sobretudo aos jovens qualificados, despreocupados com o futuro e com perspetivas de melhores rendimentos numa economia desregulada e com pouco Estado. Esse experiencialismo teve vários episódios ao longo da História, muitas vezes com elevados custos, como o que desembocou na crise do sub-prime de 2008. Tais movimentos são injustos, pois deixam para trás uma grande parte da população, a menos qualificada e mais idosa, que os mais novos não querem subsidiar com os seus impostos e contribuições.

A simples baixa de impostos ou benefícios fiscais em sede de IRS pouco contribui para inverter a saída dos jovens para o estrangeiro (1/3 segundo as últimas estatísticas). Que importa reduzir a tributação ao salário inicial de um técnico superior de 1000€, quando vai ganhar 3 ou 4 vezes mais para o exterior? A aposta no crescimento do PIB é a política correta, para o que uma diminuição substancial do IRC parece essencial na captação de investimento. Crescendo a riqueza, que é produzida pelas empresas privadas, cresce o rendimento disponível dos trabalhadores, permitindo maior arrecadação de impostos sem aumentos ou mesmo com dimuinuição da taxação em IRS, contribuindo para a desejável política social do Estado democrático e financiamento das IPSS.

QOSHE - Social ou liberal - Carlos Vilas Boas
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Social ou liberal

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08.02.2024

Uma plataforma streaming colocou em exibição um documentário sobre a vida de Alexandre, o Grande, o Magno lendário como um herói clássico no molde de Aquiles, aparecendo com destaque nas culturas gregas e não gregas, classificado entre os mais influentes de todos os tempos, fundador de cerca de vinte cidades que levavam o seu nome, principalmente Alexandria, no Egito, rei da Macedónia, imperador da Pérsia e faraó do Egito, estas através de tumultuosas conquistas militares.

Todavia, Murray Rothbard, no livro “…An Austrian Perspective on the History of Economic Though”, I, p 35, interpreta que Santo Agostinho reafirmou a parábola de Cícero que mostrava que ele era pouco mais do que um líder de um bando de ladrões: "Afastada a justiça, que são, na verdade, os reinos senão grandes quadrilhas de ladrões? Que são, na verdade, as quadrilhas de ladrões senão pequenos reinos? Estas são bandos de gente que se submete ao comando de um chefe, que se vincula por um pacto social e reparte a presa segundo a lei por ela aceite. Se este mal for engrossando pela afluência de numerosos homens perdidos, a........

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