É relevante o número de Rainhas D. Leonor. Em Portugal destaco Leonor de Avis, esposa de D. João II, que fundou as Misericórdias ao instituir em 1498 a Irmandade de Invocação a Nossa Senhora da Misericórdia (Lisboa), que se espalharam pelo país como Instituições locais de referência, na prática de obras de misericórdia corporais e espirituais e que foram fundamentais durante o período do Covid 19, que a Santa Casa de Braga assinalou com uma belíssima escultura de Helder Gonçalves, que, em síntese feliz, a resumiu: “pela pose das mãos convoca-se o imaginário para a ideia de ajuda, de solidariedade”, lembrando ainda a “criação de Adão” da obra de Michelangelo do tecto da Capela Sistina, como bem invocou D. José Cordeiro.

Na Europa detenho-me em Leonor da Aquitânia, que aos 14 anos se tornou uma das mulheres mais ricas da Europa, como Duquesa da Aquitânia por direito próprio. Foi rainha consorte da França, como esposa de Luís VII, e depois da Inglaterra, como esposa de Henrique II, além de ter sido matriarca da dinastia Plantageneta, que governou a Inglaterra entre 1154 e 1485. É mínima a probabilidade de uma mulher se tornar rainha. Ora, Leonor de Aquitânia não só foi rainha, como o foi dos dois países mais importantes da Idade Média!

Ao seu tempo, era possível que a considerassem a figura mais emblemática do século XII. Mas a atualidade não o demonstra. Tirando uma ou outra página que lhe possa ser dedicada nos livros franceses e ingleses de História, em Portugal e noutros povos só os estudiosos e eruditos saberão quem é. E os filhos, que vieram a ser Reis de Inglaterra, primeiro Ricardo I, Coração de Leão e depois João de Inglaterra? Provavelmente a maioria conhece-os. E pelas suas façanhas ou epopeias? Não. Apenas porque fazem parte da trama da história conhecida por “Robin Hood”, uma personagem fictícia que deu azo a inúmeros filmes ao longo das últimas décadas e a diversos contos de encantar. Quem não se recorda de Robin, Frei Tuck ou Little John, opondo-se a partir da floresta de Sherwood à opressão do príncipe João, que tiranizava o pais aproveitando-se do facto do seu irmão Rei Ricardo ter partido na Cruzadas?

Leva-nos a pensar que evento ignoto se prepara hoje com impacto futuro. Algum como o vivido no filme recentemente estreado “Deixar o Mundo Para Trás’?

Leonor recorda-nos que o poder terreno é efémero. “Sic transit gloria mundi”. Isto tem de ser recordado aos nossos líderes políticos, que frequentemente se afastam do único princípio que os devia nortear, o interesse público. Não foi a dedicação à causa pública que presidiu aos tristes episódios que nos são oferecidos no caso das gémeas luso-brasileiras, ocorridos há 4 anos, mas só agora conhecidos. Admite-se que não existiu pecado original na transmissão por Marcelo do pedido do filho. O que parece certo é que foi sucessivamente entendido pelo gabinete do primeiro ministro, pelos secretários de Estado das Comunidades e da Saúde e pelos dirigentes médicos que se seguiram, que se tratava de uma “cunha” do Presidente. O Dr. Nuno foi recebido por Lacerda Sales pela sua causa ou pelo seu apelido Rebelo de Sousa? Se fosse por razões humanitárias ou para esclarecimentos, porque não recebeu então os pais das bebés? O problema é que reina a perceção que nada se consegue sem “um pedidozinho”. O ex-ministro da saúde Correia de Campos veio declarar que "tinha um assessor só para as cunhas"!

Há pouco mais de 2000 anos reinava Augusto em Roma e na Judeia, nascido Octávio, sobrinho-neto de Júlio César e o primeiro imperador romano, fundador da Bracara Augusta, que cedeu às exigências de Marco António para o assassínio de Cícero, para consolidar o segundo triunvirato. Na Judeia governavam, por beneplácito de Roma, Herodes, o Grande e depois o seu filho Herodes Arquelau. Quem diria, à época, que seriam relevados para o segundo plano da História por um menino de carne e osso, nascido em humildes palhinhas, num estábulo de Belém, que Maria e José envolveram num lençol e deitaram numa manjedoura cheia de palha fofinha, o Filho de Deus, intemporal, que nasceu para ser nosso Rei e Salvador?

Ouvimos o Orfeão da Misericórdia de Gouveia cantar no concerto de Natal da Irmandade de Braga: “Natal não é em dezembro / Nem outro dia qualquer / É sempre que um homem quiser”. Mas que tem um sabor especial na noite de 24 e no dia 25 desse mês, lá isso tem.

QOSHE - Leonor e O Salvador - Carlos Vilas Boas
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Leonor e O Salvador

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14.12.2023

É relevante o número de Rainhas D. Leonor. Em Portugal destaco Leonor de Avis, esposa de D. João II, que fundou as Misericórdias ao instituir em 1498 a Irmandade de Invocação a Nossa Senhora da Misericórdia (Lisboa), que se espalharam pelo país como Instituições locais de referência, na prática de obras de misericórdia corporais e espirituais e que foram fundamentais durante o período do Covid 19, que a Santa Casa de Braga assinalou com uma belíssima escultura de Helder Gonçalves, que, em síntese feliz, a resumiu: “pela pose das mãos convoca-se o imaginário para a ideia de ajuda, de solidariedade”, lembrando ainda a “criação de Adão” da obra de Michelangelo do tecto da Capela Sistina, como bem invocou D. José Cordeiro.

Na Europa detenho-me em Leonor da Aquitânia, que aos 14 anos se tornou uma das mulheres mais ricas da Europa, como Duquesa da Aquitânia por direito próprio. Foi rainha consorte da França, como esposa de Luís VII, e depois da Inglaterra, como esposa de Henrique II, além de ter sido matriarca da dinastia Plantageneta, que governou a Inglaterra entre 1154 e 1485. É........

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