O ensino profissional teve uma grande incidência e valorização há décadas, principalmente a partir de 1950, o que constitui um valor fundamental, parar criar profissões agora, imprescindíveis nas áreas do comércio, da construção civil e da indústria.

Atualmente, o setor empresarial, principalmente a construção civil e as atividades ligadas à manutenção habitacional, assim como noutras áreas como a eletrotécnica, a serralharia, a carpintaria, a marcenaria e a área da recuperação e manutenção patrimonial artística, tem-se vindo a deparar com sérias dificuldades para conseguir profissionais preparados em escolas profissionais como acontecia no passado, numa perspetiva de valorização destas profissões, fundamentais para a economia do país.

No passado, as Escolas Comerciais e Industriais e os Institutos Industriais e Comerciais tinham professores conhecedores das matérias, devidamente preparados, e muitas vezes exercendo a sua profissão noutros setores da sua empregabilidade, mas com remuneração do trabalho realizado nas escolas profissionais, ensinavam com o seu saber pragmático e profissional os alunos.

É necessário e urgente o governo eleito rever esta situação, tendo em conta que é uma mais-valia substancial para a economia do país, embora tendo em consideração salários adequados à sua profissão, como acontece na maioria dos países da Europa, onde na maioria das vezes têm salários superiores aos licenciados, com ou sem mestrado, sendo o cerne para o crescimento empresarial e económico.

Como gestor em diversas empresas nacionais e internacionais, tive a ocasião de observar nos recursos humanos as grandes referências e dominância de técnicos, oriundos de escolas profissionais devidamente estruturadas e preparadas para a sua formação.

Infelizmente, tem-se verificado em Portugal a diversificação do ensino técnico, muitas vezes sem a formação adequada à função de técnico no setor empresarial e quantas vezes se recebem currículos com imensos diplomas e quando se vão avaliar para as candidaturas desejadas, revelam impreparação e muitas vezes recusam trabalho que exija mais esforço físico. É certo que com as novas tecnologias, as situações que carecem de maior esforço físico estão a ser atenuadas e poder-se-á caminhar para a robotização profissional, com as consequências advenientes para a empregabilidade no futuro e as remunerações após a reforma.

A digitalização, o teletrabalho e a robotização são tecnologias inovadoras e que trazem grande impacto em diversos setores e também na melhoria das condições ambientais, mas poderá conduzir a condições de desumanização, convivência social reduzida, de proximidade e com graves problemas geracionais psicológicos e demográficos.

Atualmente, os migrantes são principalmente a solução para fazer face à mão-de-obra de portugueses, em diversas áreas, social, doméstica, comercial e industrial, embora sem habitação digna, explorados em determinados setores e com salários insuficientes para a sua integração nas comunidades rurais ou urbanas.

Esta situação tende a agravar-se considerando a forma como são tratados e acolhidos, em determinados setores, estando muitos a regressar às suas origens, quando podiam ser fixados nas regiões despovoadas do país e contribuir para o crescimento da economia.

Seria uma oportunidade face à falta de mão-de-obra, criar escolas profissionais para os preparar e formar, embora com custos para o Estado, mas seria uma forma seletiva de formação, independentemente da sua etnia ou origem, mas com enquadramento adequado na sociedade, com integração e sem perda dos princípios e valores etnográficos, com vivência dos costumes no país acolhedor, mas também sem descriminação pela sua origem étnica ou de cor, pois todos somos seres humanos na origem global do planeta Terra.

Seria uma forma de rejuvenescer a população do país, face ao baixo índice de natalidade da população portuguesa, onde a inversão da pirâmide demográfica é progressiva e o envelhecimento é cada vez mais acentuado.

Por outro lado, torna-se cada vez mais notório o desejo dos jovens com cursos superiores ou noutras áreas de atividades, cujos custos de formação foram suportados em grande parte pelo Estado, emigrarem à procura de melhores condições de vida, como foi testemunhado recentemente numa sondagem feita aos jovens numa Instituição Universitária de Lisboa, onde a maioria afirmou desejar emigrar, para ter uma vida adequada à sua formação e profissão e poder constituir família.

QOSHE - O ensino profissional e as necessidades do país - Bernardo Reis
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O ensino profissional e as necessidades do país

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08.03.2024

O ensino profissional teve uma grande incidência e valorização há décadas, principalmente a partir de 1950, o que constitui um valor fundamental, parar criar profissões agora, imprescindíveis nas áreas do comércio, da construção civil e da indústria.

Atualmente, o setor empresarial, principalmente a construção civil e as atividades ligadas à manutenção habitacional, assim como noutras áreas como a eletrotécnica, a serralharia, a carpintaria, a marcenaria e a área da recuperação e manutenção patrimonial artística, tem-se vindo a deparar com sérias dificuldades para conseguir profissionais preparados em escolas profissionais como acontecia no passado, numa perspetiva de valorização destas profissões, fundamentais para a economia do país.

No passado, as Escolas Comerciais e Industriais e os Institutos Industriais e Comerciais tinham professores conhecedores das matérias, devidamente preparados, e muitas vezes exercendo a sua profissão noutros setores da sua empregabilidade, mas com remuneração do trabalho realizado nas escolas profissionais, ensinavam com o seu saber pragmático e profissional os alunos.........

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