Na entrevista recente ao Diário de Notícias sobre o 25 de Novembro de 1975, Fernando Rosas faz finalmente uma autocrítica dizendo que se encontrava do lado errado da barricada naquele dia, ou seja, junto daqueles que, depois de vários meses de falsa propaganda, difundiam que as esquerdas, militar e civil, pretendiam instituir uma nova ditadura em Portugal.

Como historiador e investigador, há largos anos, do Portugal salazarista e do pós-25 de Abril, Rosas teria tido oportunidade de, mais cedo, desmistificar aquela asserção.

Mas a sua militância, desde antes do 25 de Abril, no MRPP foi determinante para o impedir de chegar à conclusão de que tudo não passou de uma cabala montada para impedir que, bem ou mal, se tivessem feito avanços consideráveis para um socialismo pluralista, com a existência de diversos partidos políticos, liberdades fundamentais e imprensa livre, como por várias vezes o Primeiro-Ministro Vasco Gonçalves esclareceu.

É que para o MRPP e para outros partidos de extrema-esquerda, e ainda para o PS da altura, o inimigo principal era o MFA e o PCP e não o fascismo, que não estava morto, mas apenas sofrera um duro golpe, como se pode ver hoje com o ressurgimento das posições neofascistas em Portugal, na Europa e noutras partes do mundo.

Enquanto instituições capazes de mobilizar em todo o país as mais largas camadas da população, foram aqueles que tiveram capacidade de se opor às várias tentativas de regresso ao passado, personificadas pelo general Spínola, em Julho e Setembro de 1974 e depois também no 11 de Março de 1975. Por isso, era um erro de palmatória atacar ou enfraquecer o MFA e o PCP.

E Fernando Rosas refere na entrevista: "ninguém no campo da revolução socialista admitia estabelecer uma ditadura de partido único sem direito de voto - esse programa não existiu em lado nenhum, a não ser na propaganda adversária". Isto dito pela boca de um historiador e interveniente activo no campo dos que desencadearam o golpe do 25 de Novembro é mais do que um certificado de bom comportamento para a esquerda militar e civil e iliba todos aqueles que sofreram prisões e sevícias posteriormente.

É por isso triste e de lastimar o ​​​​​​​espectáculo que o actual presidente da Câmara Municipal de Lisboa encenou, um imberbe bejense de 5 anos de idade no 25 de Novembro de 1975, acolitado por alguns elementos saudosos das guerras do Ultramar, que aqueles que por lá passaram sabem bem não haver nada de bom para recordar e saudar.

Investigador em Relações Internacionais, antigo funcionário da Comissão Europeia

QOSHE - Ainda sobre o 25 de Novembro - José Pereira Da Costa
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Ainda sobre o 25 de Novembro

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27.11.2023

Na entrevista recente ao Diário de Notícias sobre o 25 de Novembro de 1975, Fernando Rosas faz finalmente uma autocrítica dizendo que se encontrava do lado errado da barricada naquele dia, ou seja, junto daqueles que, depois de vários meses de falsa propaganda, difundiam que as esquerdas, militar e civil, pretendiam instituir uma nova ditadura em Portugal.

Como historiador e investigador, há largos anos, do Portugal salazarista e do pós-25 de Abril, Rosas teria tido oportunidade de, mais cedo, desmistificar aquela asserção.

Mas a sua militância, desde antes do 25 de Abril, no MRPP foi determinante para o impedir de chegar à conclusão........

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