Os países precisam de traçar caminhos? Desenhar nos mapas da vida das pessoas e do território linhas que sabemos levar a um destino?

Antes, tal exercício é uma pretensão vã, devendo deixar-se que, organicamente, conforme as condições do momento, se vá por aqui ou por acoli?

Ou, contemporaneamente, face à subjetividade pessoal e social reinante sobre o estatuto e o sentido das pessoas e das coisas, é impossível determinar escolhas para um futuro comum?

Muito haveria a dizer sobre os modelos de organização social. A Pré-História e a História ensinam-nos como foram variados. O Estado, como tantas outras criações humanas, é uma instituição transitória - assim aconteceu com o feudo, o reino, a tribo, o clã. Houve e há modelos de organização social mais autocráticos e mais democráticos. Mais e menos participados. Com maior ou menor distribuição de Poder.

No Portugal deste primeiro quartel do século XXI, somos, como diz a Constituição, um Estado unitário, que visa "a realização da democracia económica, social e cultural". Este objetivo genérico é desenvolvido mais à frente, tanto enunciando as "tarefas do Estado", como definindo o estatuto cidadão, nomeadamente, no que se refere às liberdades, direitos e deveres, e ao definir o acolhimento da propriedade privada, cooperativa e autogestionária. Digamos que o dispositivo normativo que traça as bases dos caminhos que podem ser seguidos está organizado. Compete aos políticos eleitos, nomeadamente, nos governos nacionais, regionais e locais, definir, no concreto, as linhas dos caminhos para o país. Claro que isso não isenta a iniciativa privada e os cidadãos de se assumirem como protagonistas de mudança e da promoção do desenvolvimento.

Que é possível, através da liderança política, traçar caminhos de crescimento, temos exemplos. A nível nacional, enquanto primeiro-ministro, Cavaco Silva é o grande protagonista da transformação de Portugal em país europeu moderno. Estruturou a lei de bases do sistema educativo, incentivou o ensino universitário privado e profissional; abriu auto-estradas e fez pontes; promoveu o desenvolvimento da habitação e consolidou o sistema nacional de saúde; a comunicação social foi alargada à iniciativa privada; estruturou a Expo 98 e grandes centros culturais como Serralves e o CCB; preparou desígnios de médio e longo prazo, de que o Relatório Porter é um exemplo; fez convergir a economia portuguesa com a europeia e estimulou o empreendedorismo. Enfim, traçou um caminho e concretizou um trabalho determinante a nível nacional. Regionalmente, na Madeira, Alberto João Jardim revolucionou o traçado e as acessibilidades no território, fez do aeroporto um porto seguro, gerou empregou e contribuiu ativamente para o desenvolvimento da indústria turística, trazendo a Madeira para um patamar completamente novo. Localmente, Isaltino Morais fez de Oeiras - um concelho deprimido, periférico e cheio de barracas nos anos 80 do século passado - no território com melhor nível de vida do país, com proteção dos mais pobres e incentivo à instalação de empresas, tecnologia, ciência e universidades, levando Oeiras a ser referência indiscutível a nível nacional e internacional de gestão autárquica.

Em termos privados, o empreendedorismo nacional de empresários fez, por exemplo, da SONAE, da Jerónimo Martins, da Logoplaste, da Amorim, da Delta, empresas de excelência e que contribuem para a riqueza nacional e empregabilidade.

No âmbito da sociedade civil, iniciativas como a criação do Banco Alimentar, da AMI, da Confederação Nacional de Associações de Pais, das associações de apoio a pessoas com diferenças físicas e mentais, são exemplo da capacidade empreendedora cidadã.

Em 2023, na liderança política nacional, a falta de proposta para um caminho é dececionante. O que propõe o Governo no OE 2024? Dar rendimento com uma mão e tirar com a outra, pois teremos o maior aumento de impostos de sempre (38% do PIB). O grande objetivo de desenvolvimento é uma coisa vaga. Antes, o Partido Socialista tinha a "paixão pela Educação". Agora, alargou a sua ambição, e tem a "paixão pelas pessoas". Eu, por mim, estou à espera de um grande e amplo abraço de António Costa, como aquele do cartaz onde ele abraça um idoso, eventualmente, para limpar a imagem da gritaria que fez com outro, na campanha eleitoral. Talvez no quentinho do abraço se faça luz e descubra, afinal, qual é, o caminho apaixonado que nos propõe.

QOSHE - Semanologia: Um caminho para Portugal - Jorge Barreto Xavier
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Semanologia: Um caminho para Portugal

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06.11.2023

Os países precisam de traçar caminhos? Desenhar nos mapas da vida das pessoas e do território linhas que sabemos levar a um destino?

Antes, tal exercício é uma pretensão vã, devendo deixar-se que, organicamente, conforme as condições do momento, se vá por aqui ou por acoli?

Ou, contemporaneamente, face à subjetividade pessoal e social reinante sobre o estatuto e o sentido das pessoas e das coisas, é impossível determinar escolhas para um futuro comum?

Muito haveria a dizer sobre os modelos de organização social. A Pré-História e a História ensinam-nos como foram variados. O Estado, como tantas outras criações humanas, é uma instituição transitória - assim aconteceu com o feudo, o reino, a tribo, o clã. Houve e há modelos de organização social mais autocráticos e mais democráticos. Mais e menos participados. Com maior ou menor distribuição de Poder.

No Portugal deste primeiro quartel do século XXI, somos, como diz a Constituição, um Estado unitário, que visa "a realização da democracia económica, social e cultural". Este objetivo genérico é desenvolvido mais à........

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