De acordo uma sondagem encomendada pela Sic/Expresso, os jovens portugueses ( 18-34 anos) tencionam votar na sua esmagadora maioria à direita e – lamentavelmente, digo eu – 45% parece ir votar no Chega, contra uns irrelevantes 12% na AD e 6% no PS. Este facto deve merecer uma reflexão séria.
No ano em que se cumprem 50 anos do 25 de Abril e da conquista das liberdades é ainda mais assustador perceber que os jovens se aproximam do radicalismo e da extrema-direita. Não é um exclusivo nacional, mas uma tendência generalizada por essa Europa fora. Quais as razões então?
A instabilidade económica dos últimos anos associada a um período pandémico que teve nos jovens das principais vítimas, assim como a perceção de oportunidades limitadas – sobretudo no emprego – conduzem inexoravelmente a um descontentamento e à busca de alternativas menos convencionais e balizadas pela demagogia profunda.
A extrema-direita alimenta, jogando com as emoções, um sentimento “anti-establishment” próprio dos mais jovens, tão desiludidos que estão com os políticos convencionais. Os partidos de extrema-direita posicionam-se muitas vezes como “outsiders” que desafiam o “status quo”, e isso ecoa junto de jovens naturalmente insatisfeitos.
Acresce, que os partidos radicais perceberam que a forma mais eficaz de mobilizar e de comunicar com os mais jovens é usando as redes sociais, o “habitat” natural dos mais novos, pelo que comparar os 147 mil seguidores do Chega no Instagram com os 32 mil do PS ou os 39 mil do PSD diz muito sobre a eficácia comunicacional. O mesmo se confirma no Youtube, onde o Chega tem 152 mil subscritores, o PS 10 mil e o PSD 16 mil. E no Facebook, que atualmente é cada vez menos usado pelos mais novos, mesmo assim o Chega tem 187 mil seguidores, contra os 105 mil do PS e os 168 mil do PSD.
Já aqui escrevi e insisto, os meios de comunicação social tradicionais ainda desempenham um papel significativo na formação de opiniões políticas e tem sido dado à extrema-direita um tempo de antena e uma visibilidade absurdas, dando a Ventura uma desmesurada visibilidade.
É normal que os jovens não gostem do politicamente correto, donde a retórica populista da extrema-direita facilmente atrai. Portugal em Marco e a Europa em Junho serão confrontados com um voto jovem atraído por extremistas, donde uma reflexão muito séria se impõe. Na escola, no Parlamento, na sociedade civil e em cada uma das nossas casas.

QOSHE - Os jovens e a extrema-direita - Ricardo Castanheira
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Os jovens e a extrema-direita

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05.02.2024

De acordo uma sondagem encomendada pela Sic/Expresso, os jovens portugueses ( 18-34 anos) tencionam votar na sua esmagadora maioria à direita e – lamentavelmente, digo eu – 45% parece ir votar no Chega, contra uns irrelevantes 12% na AD e 6% no PS. Este facto deve merecer uma reflexão séria.
No ano em que se cumprem 50 anos do 25 de Abril e da conquista das liberdades é ainda mais assustador perceber que os jovens se aproximam do radicalismo e da extrema-direita. Não é um exclusivo nacional, mas uma tendência generalizada por essa Europa fora. Quais as razões então?
A instabilidade........

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