Foi bastante falada nos últimos dias, em alguns meio de comunicação, a descoberta de água na lua Mimas, um pequena lua de Saturno que, por aparente bruxedo, parece a Estrela da Morte da saga da Guerra das Estrelas.
Mimas, é bem conhecida dos amantes da Guerra das Estrelas, ou Star Wars, para os mais puristas, devido à sua espantosa semelhança com a Death Star com a qual Darth Vader destruía mundos. O espanto era ainda maior por a primeira imagem desta lua nos ter sido enviada pela sonda Voyager 1, em 1980, tendo o filme sido feito em 1977.
Como se não bastasse, eis que agora, com um estudo dos detalhes do movimento orbital da pequena lua Mimas, de apenas 400 km de diâmetro, em torno do gigantesco planeta Saturno, se conclui que essa pequena lua tem um oceano por baixo da sua crosta congelada de 20-30 km de espessura. Os dados do movimento dessa lua foram obtidos pela sonda Cassini, que orbitou Saturno de 2004 a 2017. Não, não é gralha, a sonda Cassini deixou de operar em 2017 — na verdade, foi destruída intencionalmente na atmosfera de Saturno precisamente para evitar uma colisão acidental com alguma das suas luas com mais potencial de albergar algum tipo de vida. No entanto, ainda hoje se estudam os dados que ela conseguiu enviar. E foi isso mesmo que Valéry Lainey, do Observatório de Paris, e sua equipa fizeram.
Para quem conhece o velho truque de meter um ovo a rodar para perceber se está cru ou cozido, é mais fácil entender que de facto uma bola completamente sólida não vai rodar exatamente da mesma maneira do que uma bola com um interior líquido. (Para quem não conhece o truque, o ovo cozido fica a rodar bastante tempo enquanto que o ovo cru para de rodar depressa.)
O leitor mais prático, ou mais utilitarista, e menos dado a interrogações semi-filosóficas sobre o Universo pode agora, legitimamente, colocar a questão: Mimas tem um oceano no interior, e então? A resposta é: no imediato, não nos faz nada. Não nos faz nada de hoje para amanhã, tal como nenhuma descoberta científica o faz. Quando Faraday andou a «brincar» com um disco metálico a rodar entre ímans, em 1831, inventou o gerador. Foram precisos 47 anos para Paris ter o seu primeiro candeeiro elétrico, em 1878. Hoje, já não sabemos viver sem eletricidade. Em 1854, Riemann apresentou um trabalho «sobre as hipóteses que estão nas bases da geometria». Einstein precisou dos trabalhos de Riemann para a sua teoria da relatividade geral em 1915. O moderno sistema global de navegação por satélite (GNSS), com o GPS, Galileo, BeiDou e outros, precisa da relatividade geral para corrigir os relógios senão não teria a mesma precisão. Hoje, já não sabemos chegar a lado nenhum só a olhar para um mapa da Michelin. Em 1992, O’Sullivan e seus colegas patentearam o sistema que tinham inventado para obterem dados astronómicos com menos interferências, criando o WiFi. Hoje, somos todos burros se estivermos desligados da internet. E, daqui a uns anos, sabe-se lá, alguém mudará o futebol, com uma bola de camadas líquidas capaz de fazer ziguezagues e marcar dois golos de uma só vez.
Só conhecemos o verdadeiro alcance de uma descoberta quando já estamos a olhar para trás. Aguardemos.