Ainda o silêncio pairava sobre qual seria o novo Governo e já o radicalismo se instalava. Ainda não formado, isto é, ainda totalmente desconhecido qual o Governo que viria a formar-se e qual o seu programa de acção, logo o Partido Comunista Português que ocupa o leque parlamentar à esquerda, grande derrotado nas Eleições e já quase sem visibilidade, se apressou a anunciar uma moção de rejeição a um Governo, repete-se, ainda desconhecido. Isto é, uma moção de rejeição ao vazio porque não havendo Governo não havia nada a rejeitar. Talvez seja esta a sua matriz de Democracia, mas não deixa de ser a sua autoexclusão do regime democrático.
Entretanto, nos dias seguintes, o povo português depara-se com a mesquinhice do que se vive dentro e fora da Assembleia da República e há que dizer que mais de um milhão e cem mil votos de uma nova “maioria” (isto é, a definição de três grandes forças políticas, entre as nove existentes no Parlamento) não veio reforçar nem veio facilitar o equilíbrio do panorama partidário português, tal a confusão gerada com o (ou pelo) Partido mais à direita de Portugal. Com efeito, dou por desnecessária aqui uma opinião sobre o que aconteceu no dia em que os partidos se reuniram para eleger o Presidente da Assembleia da República, figura que, goste-se ou não se goste da pessoa ou das suas ideias, será a Segunda Autoridade Nacional, pelo que, no mínimo, deverá merecer o maior respeito de todos os portugueses, liberto de humilhações que, no caso, sempre lhe chegaram por ricochete.
Vou por isso ultrapassar este ponto dizendo, simplesmente, que ele foi também logo ultrapassado porque nem todas as “bolhas” têm pessoas iguais. Felizmente que há diferenças no que diz respeito ao sentido “institucional” de cada uma delas. Aliás, não poderá dar-se muita relevância a este acontecimento, porque ele já ocorreu com “bolhas” semelhantes noutras “Democracias” fora do nosso País. Todavia, não poderei deixar de comentar que houve aqui “uma escorregadela de ingenuidade” que o povo português talvez não esperasse de gente experimentada nestas lides políticas.
Entretanto as incertezas são muitas. Luís Montenegro é sem dúvida o ganhador, mas o Parlamento surge muito fragmentado, quando deveríamos estar num momento de construir pontes sólidas entre Partidos que não olhem apenas para os seus umbigos, mas olhem também, e sobretudo, para os umbigos dos portugueses. Sei que não é fácil, e que se não auguram tempos fáceis, mas, como mulher positiva e confiante, torço para que os verdadeiros políticos e todas as “rodas de interesses” formadas à sua volta estejam só e apenas fixados no futuro do povo português: no futuro dos jovens para que estes se possam realizar e ser felizes (e úteis) em Portugal; na classe média que, em Portugal tem uma escada que neste momento só lhe permite descer e está sem forças para subir; naqueles milhares de pessoas que nem escada têm. As grandes “reformas estruturais” de que todos falam, reformas de problemas já bem diagnosticados, têm de passar por aí. É difícil? É. É mesmo muito difícil!… Mas é possível!… Assim o queiram!…
Resta-me, para terminar, uma nota que foi símbolo de um País democrático (excluindo os que o não são, porque vivem nas cassetes gravadas no mal): Considero muito positiva para todos os portugueses a forma dignificante com que António Costa e Luís Montenegro fizeram a transferência de poderes. Com serenidade e com elevação dignificaram assim as instituições nacionais.

QOSHE - A escorregadela da ingenuidade - Maria Helena Teixeira Química E Escritora
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A escorregadela da ingenuidade

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05.04.2024

Ainda o silêncio pairava sobre qual seria o novo Governo e já o radicalismo se instalava. Ainda não formado, isto é, ainda totalmente desconhecido qual o Governo que viria a formar-se e qual o seu programa de acção, logo o Partido Comunista Português que ocupa o leque parlamentar à esquerda, grande derrotado nas Eleições e já quase sem visibilidade, se apressou a anunciar uma moção de rejeição a um Governo, repete-se, ainda desconhecido. Isto é, uma moção de rejeição ao vazio porque não havendo Governo não havia nada a rejeitar. Talvez seja esta a sua matriz de Democracia, mas não deixa de ser a sua autoexclusão do regime democrático.
Entretanto, nos dias seguintes, o povo português depara-se com a mesquinhice do que se vive dentro e fora da Assembleia da República e há que dizer que mais de um milhão e cem mil votos de uma nova “maioria”........

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