Na cobertura diária que os noticiários das televisões nacionais têm feito do conflito em curso na Faixa de Gaza são repetidas advertências aos telespectadores de que algumas “imagens podem conter conteúdo sensível”. São avisos feitos antes de serem mostrados bebés, crianças e adultos ensanguentados, a chorar, a gritar, em sofrimento. Só palestinos. Nenhum israelita.
No entanto, o embaixador de Israel na ONU, Gilad Erdan, disponibilizou no dia 26 de outubro um QRCODE no Twitter (rebatizado X) para acesso a 43 minutos de vídeos e fotografias que documentam o absoluto horror de atrocidades cometidas no infame dia 7 de outubro contra mais de dois mil israelitas, entre os quais bebés, crianças, grávidas incapacitados e nonagenárias. Todos eles foram barbaramente assassinados unicamente por serem judeus. Um camponês tailandês, não judeu, mas presumido tal, foi decapitado com uma enxada.

Essas imagens nunca foram mostradas pelas televisões, mas deviam tê-lo sido. Obviamente acompanhadas do alerta “imagens podem conter conteúdo sensível”. Quem ficou profundamente abalado com o que assistiu em A lista de Schindler, quase certamente ficará em estado de choque se as vir.
O critério usado pelas televisões para fazer essa seleção permanece obscuro. Ainda mais incerto é quem toma as decisões sobre o que é exibido. Talvez a escolha deva ser deixada aos telespectadores. Suponho que haja a intenção de procurar poupá-los a cenas extramente repugnantes para seres humanos decentes. Ainda assim, onde, como e quem fixa a fronteira entre o que se pode moralmente observar e não observar? Haverá imagens que são simplesmente insuportáveis, porque instilam um pavor absoluto e causam um dano moral irreversível? Muitas pessoas, quando assistem a um filme de terror reagem fechando os olhos perante cenas aterradoras. Paradoxalmente, no entanto, tiveram de as vislumbrar.

Dou-me conta, sim, que nesse jogo manipulador de mostra e esconde, o Hamas, o Hezbollah, a Jihad Islâmica, e o patrão de todos esses gangues do terror, a Irmandade Muçulmana, ficam fora dos holofotes mediáticos, como se não existissem. Incompreensivelmente, o Irão e a Turquia não se apresentam expostos, quanto mais censurados, por terem perversamente aplaudido e celebrado o genocídio do dia 7 de outubro. E porque não há uma corrente global a exigir a libertação dos reféns israelitas do Hamas, supondo que estão vivos? E não devia haver um coro mundial a reclamar a rendição e o julgamento em tribunal de todos os terroristas do Hamas? E porque não há uma chamada planetária a pedir esclareci- mento a todo e cada palestino se é ou não cúmplice e conivente com o Hamas? Vários palestinos que abominam o Hamas e que expressaram perante as câmaras televisivas isso mesmo foram imediatamente mortos. Porque não revelam as televisões nada isso?

Incompreensivelmente, o Hamas tem um porta-voz a viver luxuosamente em Paris e os cabecilhas do gangue, o mentor político Ismail Haniyeh, o número dois Saleh al-Arouri, o capataz em Gaza Yahya Sinwar e o lacaio militar Mohammed Deif não só ficam no Four Seasons em Doha, Qatar, em suites que custam per diem cerca de 8000 riais catarenses (aproximadamente 2000 euros), como viajam regularmente em jato privado entre as tocas onde se encontram escondidos e Teerão e Doha, para pedirem e receberem apoio financeiro – calcula-se que cerca de 500 milhões de euros por ano, aos quais juntam outro tanto extorquido ao auxílio dos EUA e UE ao povo palestino que tiranizam há 17 anos – e logístico. Porque não divulgam as televisões isto?

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“Pontos cegos na cobertura...”

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11.11.2023

Na cobertura diária que os noticiários das televisões nacionais têm feito do conflito em curso na Faixa de Gaza são repetidas advertências aos telespectadores de que algumas “imagens podem conter conteúdo sensível”. São avisos feitos antes de serem mostrados bebés, crianças e adultos ensanguentados, a chorar, a gritar, em sofrimento. Só palestinos. Nenhum israelita.
No entanto, o embaixador de Israel na ONU, Gilad Erdan, disponibilizou no dia 26 de outubro um QRCODE no Twitter (rebatizado X) para acesso a 43 minutos de vídeos e fotografias que documentam o absoluto horror de atrocidades cometidas no infame dia 7 de outubro contra mais de dois mil israelitas, entre os quais bebés, crianças, grávidas incapacitados e nonagenárias. Todos eles foram barbaramente assassinados unicamente por serem judeus. Um camponês tailandês, não judeu, mas presumido tal, foi decapitado com uma enxada.

Essas imagens nunca foram mostradas pelas televisões, mas deviam........

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