Lembro-me que há muitos, muitos anos, delirava com a vitória de Israel sobre os Árabes. A televisão passava, então, uma reportagem em que se viam espalhadas no Sinai, centenas de alpercatas, abandonadas pelos soldados egípcios que fugiam dos israelitas. Ainda estava muito presente a memória do Holocausto e uma certa aversão aos árabes que nos era incutida na escola.
Porém, com o tempo, fui mudando de opinião. Apesar do Holocausto, quando os judeus aportaram á Palestina, no princípio do século XX e depois da Guerra, havia lá outros povos, os denominados palestinianos. E nem todos eram muçulmanos; havia cristãos ortodoxos e cristãos de rito arménio; havia também beduínos que passeavam os seus rebanhos pelas terras áridas do Negev.
Depois da última guerra israelo-árabe, os israelitas concentraram uma boa parte dos palestinianos na Faixa de Gaza, conquistada ao Egipto na Guerra dos Seis Dias, e outra parte na Cisjordânia, onde começaram a instalar colonatos nas terras mais férteis e onde os palestinianos são sujeitos a segre- gação racial.
E, chegamos, deste modo, a 7 de outubro, em que militares do Hamas, grupo fundamentalista islâmico ligado à Irmandade Muçulmana, atravessou a fronteira de Gaza, trucidaram mais de 1.000 habitantes de Israel e fizeram mais de três centenas de reféns. E, como isto aconteceu, ainda não há explicação. Como foi possível que um exército dos mais eficientes do mundo e como Serviços de Espionagem de alta qualidade não detetaram a preparação da invasão, quando se orgulhavam que nem um rato escapava à vigilância ao atravessar a fronteira de Gaza? Há quem entenda que o Hamas foi atraído a esta armadilha para que o governo extremista de Nethanyau pudesse acabar, de vez, com a resistência dos palestinianos.
O que é certo é que a Faixa de Gaza está reduzida a escombros e morreram milhares de palestinianos, quer em Gaza, quer na Cisjordânia. Entretanto, Israel transformou-se num estado pária que não respeita o direito internacional, nem as deliberações das Nações Unidas.
Mas, as consequências fazem-se sentir nas relações internacionais. Assim, ao apoiar Israel, os Estados Unidos perdem a legitimidade moral que justificava a liderança na defesa dos direitos humanos. E, quando pa- recia que, com a Guerra da Ucrânia, os USA haviam renascido como potência dominante, ao substituir a Rússia no fornecimento de gás e petróleo à Europa e, através da NATO, a controlar o expansionismo russo, tudo se desmoronou. Além de ameaçar abrir fraturas no próprio Partido Democrático, podendo abrir o caminho a Trump. E, então, tudo será muito pior.
Em contrapartida, a China apresenta-se com lucidez e realismo, ameaçando fortemente a hegemonia americana na ordem internacional.
Quanto à Europa, ninguém se entende, não existe política comum, falhou a união política e vai diminuindo a sua importância económica.
E, como o dinheiro não dá para tudo, a Rússia está a caminho de asfixiar a Ucrânia, já que o Partido Republicano bloqueia qualquer ajuda à Ucrânia.
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Lembro-me que há muitos, muitos anos, delirava com a vitória de Israel sobre os Árabes. A televisão passava, então, uma reportagem em que se viam espalhadas no Sinai, centenas de alpercatas, abandonadas pelos soldados egípcios que fugiam dos israelitas. Ainda estava muito presente a memória do Holocausto e uma certa aversão aos árabes que nos era incutida na escola.
Porém, com o tempo, fui mudando de opinião. Apesar do Holocausto, quando os judeus aportaram á Palestina, no princípio do século XX e depois da Guerra, havia lá outros povos, os denominados palestinianos. E nem todos eram muçulmanos; havia cristãos ortodoxos e cristãos de rito arménio; havia também beduínos que passeavam os seus rebanhos pelas terras áridas do Negev.
Depois da última guerra israelo-árabe, os israelitas concentraram uma boa parte dos........
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