Estou a escrever num momento em que não se sabe qual o partido que ga- nhou as eleições, já que o que foi contado foram os deputados da AD(PSD+CDS+PPM), aos quais se juntaram os de uma coligação diferente, na Madeira (PSD+CDS); além de que faltam os resultados da emigração. De qualquer modo, já é possível fazer um balanço.
1. Ganhou, em primeiro lugar, o Presidente que consegui demolir a maioria absoluta do PS que incomodava o seu ego e a sua ânsia de poder e protagonismo. Gerou-se um monstro e a instabilidade governativa que irá afetar o futuro do país. Mas não é importante para MRS, desde que retome o poder de intervir e mandar. Só que, agora, o efetivo poder está no Chega e não em MRS. Pode ter aumentado marginalmente o seu partido-PSD, mas o futuro deste depende do monstro.
2. O grande vencedor foi o Chega que atingiu quase 20% e mais de um milhão de votos. E cabe aqui uma pergunta: De onde vem esta gente? Existem muitas teorias sobre o assunto. Na minha opinião, os sentimentos racistas, xenófobos, machistas e saudosistas do fascismo existiam e circulavam na sociedade e eram expressos em privado. Estes valores foram articulados por um líder que lhes deu um formato populista, copiando o que se passa na Europa. Mas, esta cultura retrógrada está profundamente enrai- zada na sociedade portuguesa. Daí, que sendo os eleitores do Chega predominantemente homens entre os 30 e os 50 anos, sem curso superior, espalham-se uniformemente por todo o território nacional. Pelo que não pode ser considerado um epifenómeno regional e está aí para ficar. Tudo depende da capacidade de André Ventura conseguir articular os valores ideológicos reacionários e os respetivos interesses. E já vimos que tem tido sucesso.
3. Desapareceu definitivamente a ideia de que o país é de esquerda. Na verdade, os partidos de esquerda foram reduzidos à sua insignificância. E o PCP foi simplesmente apagado do mapa, perdendo o Alentejo e a capacidade de mobilização da rua; para isso contribuiu, sem dúvida, a sua ambiguidade relativamente à guerra na Ucrânia, pois vê na nova Rússia a URSS e em Putin um novo Lenine.
O Chega controla agora a rua através dos sindicatos inorgânicos e núcleos de extrema-direita infiltrados nas forças de segurança.
4. E, neste contexto é pouco importante saber qual o partido que constitucionalmente ganhou as eleições e indicará o Primeiro-Ministro.
O PSD, apadrinhado pelo Presidente, e em nome da AD no continente, da outra AD da Madeira e, ainda da antecipada vitória na emigração prontificou-se a formar governo. Assumindo que o Presidente vai aceitar esta pretensão, o que se pode esperar? O PSD vai gastar o excedente orçamental, satisfazendo todas as reivindicações que, ultimamente ocuparam a rua, irá descer alguns impostos, o que levará ao défice nos próximos anos. Mas, pouco lhe interessa, desde que ganhe as eleições que resultarão da não aprovação do orçamento do próximo outubro; a não ser que o Chega lhe dê a mão, mas, nessa altura, ficará no seu bolso, ficando à vista a sua insignificância política.
Entretanto, o PSD terá grande dificuldade em encontrar pessoal capaz para o governo. Ninguém está interessado em embarcar nesta aventura, nem mesmo os esqueletos que Montenegro tirou do armário para entusiasmar as hostes da AD.
5. Ao mesmo tempo, a comunicação social que foi importante nesta festa de fim do regime, vem mudando a narrativa. Prepara-se para exercer chantagem sobre o PS, se não apoiar as medidas e políticas do PSD. Em culturas mais sérias estes comentadores assumiriam a sua posição ideológica e a suas simpatias partidárias. Mas não assim em Portugal, onde se apresentam como cientistas políticos, defensores do bem comum e do futuro do país. Como diz Pacheco Pereira, em artigo no Público do último sábado, esta gente deveria ser desmascarada, mas há muitos interesses em causa.
6. Em conclusão, o país não vai bem, nem vai para melhor. Podemos ter, a curto prazo, uma nova crise financeira, ou, então um novo regime musculado. Valha-nos a EU se continuar a existir.

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QOSHE - “ Eleições Legislativas: quem...” - J.a. Oliveira Rocha
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“ Eleições Legislativas: quem...”

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22.03.2024

Estou a escrever num momento em que não se sabe qual o partido que ga- nhou as eleições, já que o que foi contado foram os deputados da AD(PSD CDS PPM), aos quais se juntaram os de uma coligação diferente, na Madeira (PSD CDS); além de que faltam os resultados da emigração. De qualquer modo, já é possível fazer um balanço.
1. Ganhou, em primeiro lugar, o Presidente que consegui demolir a maioria absoluta do PS que incomodava o seu ego e a sua ânsia de poder e protagonismo. Gerou-se um monstro e a instabilidade governativa que irá afetar o futuro do país. Mas não é importante para MRS, desde que retome o poder de intervir e mandar. Só que, agora, o efetivo poder está no Chega e não em MRS. Pode ter aumentado marginalmente o seu partido-PSD, mas o futuro deste depende do monstro.
2. O grande vencedor foi o Chega que atingiu quase 20% e mais de um milhão de votos. E cabe aqui uma pergunta: De onde vem esta gente? Existem muitas teorias sobre o assunto. Na minha opinião, os sentimentos racistas, xenófobos, machistas e saudosistas do fascismo existiam e circulavam na sociedade........

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