Com algum tempo livre, passo algum desse tempo a clicar no comando, à procura de uma qualquer estação de televisão que apresente uma visão racional e neutral do conflito do Médio Oriente, mas todas debitam, de forma encapotada, ou descaradamente, a mesma cartilha. Nesta tarefa, os locutores são ajudados por dezenas de especialistas. Se repararmos bem, existem três tipos de especialistas: os militares; os professores de Relações internacionais; e os tudólogos. Os primeiros, que são muitos, num pequeno exército onde abundam os generais, discutem a estratégia militar, isto é, de como os israelitas podem terraplanar Gaza. Os segundos debitam opiniões, retiradas das redes sociais, que devem ler acriticamente. As suas opiniões demonstram à saciedade a opinião de que as Relações Internacionais é uma área do conhecimento, nascida no pós-guerra, destinada a justificar a expansão americana no mundo. O terceiro grupo-os tudólogos- fala de tudo, tanto faz economia, relações internacionais, eleições e crise climática. O Dr. Marques Mendes e o Prof. Marcelo Rebelo de Sousa constituem os exemplos mais acabados. Mas as televisões recorrem a outros, verdadeiros homens de mão que estão sempre prontos a justificar o injustificável.
No mesmo apontamento classificam os bombardeamentos de civis feitos pelos russos, como crimes de guerra e de guerra justa com efeitos colaterais o genocídio de Gaza.
E se algum destes profissionais não alinha pela tese oficial, lá estarão os locutores para chamar a atenção e fazer passar a mensagem oficial. Neste ponto, as Declarações de António Guterres são paradigmáticas. Apesar de serem incapazes de criticar o que foi afirmado pelo Secretário-Geral das Nações Unidas, introduzem um “mas”. Mas não foi adequado…, mas foi pouco claro…, mas foi politicamente incorreto.
Todavia, este comportamento da Comunicação Social tanto acontece nas questões do Médio Oriente, como na Guerra da Ucrânia, como na política nacional. Estamos a assistir, em todos os canais, a uma campanha contra o governo. Vale tudo. Dizem alguns que o povo “compra” a maledicência e que aumentar as audiências se traduz na divulgação de fatos prejudiciais para o governo. Não sei se será tanto assim, ou se corresponderá a uma estratégia pensada.
Mas, voltando ao Médio Oriente, seria fácil informarem-se sobre o contexto e a história do conflito Israelo-Palestiniano, mas isso não interessa aos fazedores de opinião. E, todavia, a televisão passou esta semana um trabalho, feito pela BBC sobre a questão do Médio Oriente.
Aí se diz que a responsabilidade do conflito se deve exclusivamente à Inglaterra. Assim, ainda durante a Primeira Guerra incentivou a emigração de judeus para a Palestina; prometeu a mesma terra a judeus e palestinianos, integrada na Grande Síria. Mas, já depois da guerra fez um acordo com a França, autonomizando a Palestina do resto do mundo árabe que se havia libertado do império otomano. Ingleses e franceses retalharam em mandatos o Médio Oriente. A preocupação dos ingleses era garantir a segurança do Canal do Suez que permitia o acesso à Índia e, além disso, a construção de um oleoduto do Iraque até Haifa, na Palestina, ambos os territórios sob mandato britânico. Churchill, então secretário de estado, foi o pai desta estratégia.
Em conclusão, foi a política imperialista do ocidente europeu que semeou conflitos por todo lado. E, hoje a Europa não existe de fato, andando á trela de um presidente americano que quer ser eleito, num mundo em que os Estados Unidos perderam o seu crédito com as derrotas no Afeganistão e Iraque e só têm um aliado fiável- Israel; e a Europa, sobretudo a do centro, continua a culpar-se pelo holocausto.

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“A televisão do nosso...”

6 0
03.11.2023

Com algum tempo livre, passo algum desse tempo a clicar no comando, à procura de uma qualquer estação de televisão que apresente uma visão racional e neutral do conflito do Médio Oriente, mas todas debitam, de forma encapotada, ou descaradamente, a mesma cartilha. Nesta tarefa, os locutores são ajudados por dezenas de especialistas. Se repararmos bem, existem três tipos de especialistas: os militares; os professores de Relações internacionais; e os tudólogos. Os primeiros, que são muitos, num pequeno exército onde abundam os generais, discutem a estratégia militar, isto é, de como os israelitas podem terraplanar Gaza. Os segundos debitam opiniões, retiradas das redes sociais, que devem ler acriticamente. As suas opiniões demonstram à saciedade a opinião de que as Relações Internacionais é uma área do conhecimento, nascida no pós-guerra, destinada a justificar a expansão americana no mundo. O terceiro grupo-os tudólogos- fala de tudo, tanto faz economia, relações internacionais,........

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