A conclusão mais fácil que sempre se tira é a de que o culpado do fracasso é o treinador

O adepto do Benfica há muito que despediu Roger Schmidt. Fê-lo logo, mentalmente e publicamente nas redes sociais, pela forma menos convincente com que se sagrou campeão. Repetiu-o, mesmo depois da conquista da Supertaça e de ter vencido FC Porto e Sporting, após a má prestação na Champions e reforçou a ideia com as exibições menos conseguidas, ao ponto de lhe atirar objetos na altura das substituições, algo nunca visto. Já quando saiu goleado do Dragão, o mesmo adepto encolheu os ombros e disse para os amigos «Eu avisei», juntando-lhe a questão «Lembras-te do que te disse há meses?» na eliminação na Taça e agora na derrota em Alvalade, que parece afastar a equipa do título em definitivo.

Para as bancadas, o alemão não tem futuro no clube. No entanto, e por muito que Rui Costa ainda tenha esse lado apaixonado pelo emblema que dirige e do qual dificilmente se livrará sem que o influencie um pouco, é nestes momentos que um gestor tem de ser racional para poder ser o mais eficiente possível.

Mesmo achando que há responsabilidades de Schmidt na forma como geriu esta temporada, nas dificuldades que teve para assentar as próprias ideias, na estabilização de um melhor onze e até de ser convincente no mercado (seja com o que delineou ou nas decisões em que assinou por baixo ao aceitá-las, não sabemos o que aconteceu), ao ponto de chegar a este momento já em défice e exposto ao KO, não acho que um despedimento no verão, caso se confirme uma época sem títulos, à exceção da tal Supertaça, deva ser assumido de ânimo leve.

Num dos pratos da balança, e com peso considerável, estará a inevitável e insuportável pressão do terceiro anel sobre um treinador já fragilizado. Todavia, não seria a primeira vez que técnicos com épocas em branco voltaram a reencontrar-se e a ter sucesso em Portugal. Conceição, Amorim e Jesus são bons exemplos. Depois, despedir o alemão, que renovou há pouco mais de um ano até 2026, custaria ao clube o mesmo que uma transferência de um bom jogador, como Aursnes ou Neres. Quero acreditar que a estrutura do futebol encarnado encontrou no trabalho diário, além dos jogos, razões suficientes para tal aposta de longo prazo. Ou seja, não pode ter sido obra de um impulso.

Antes de se tomar uma decisão com o impacto de um despedimento, é necessário perceber o que correu mal e se há algo que acrescentado ao projeto poderia ter levado a outros resultados. Uma aposta mais assertiva no mercado com melhor aproveitamento do scouting, uma estrutura de futebol mais presente e reforçada ou até um eventual reforço da equipa técnica em situações específicas, como as bolas paradas. São apenas exemplos.

Se a direção chegar à conclusão de que há um único réu – e essa, apesar de ser a mais fácil de se chegar, também é a mais difícil de entender – é necessário responder a outras questões fundamentais. Qual é o projeto que o clube quer? Para que este seja bem-sucedido que futebol quer jogar? Há uma solução melhor disponível? Em Portugal? No estrangeiro? Mudar tem, sobretudo, de fazer sentido.

QOSHE - O adepto já despediu Roger Schmidt - Luis Mateus
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O adepto já despediu Roger Schmidt

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08.04.2024

A conclusão mais fácil que sempre se tira é a de que o culpado do fracasso é o treinador

O adepto do Benfica há muito que despediu Roger Schmidt. Fê-lo logo, mentalmente e publicamente nas redes sociais, pela forma menos convincente com que se sagrou campeão. Repetiu-o, mesmo depois da conquista da Supertaça e de ter vencido FC Porto e Sporting, após a má prestação na Champions e reforçou a ideia com as exibições menos conseguidas, ao ponto de lhe atirar objetos na altura das substituições, algo nunca visto. Já quando saiu goleado do Dragão, o mesmo adepto encolheu os ombros e disse para os amigos «Eu avisei», juntando-lhe a questão «Lembras-te do que te disse há meses?» na eliminação na Taça e agora na derrota em Alvalade, que parece afastar a........

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