Devemos encarar o desporto como um verdadeiro caldeirão de emoções e a competição como uma oportunidade única de análise da essência humana.

O jogo desta semana entre o Estoril e o FC Porto tem gerado muita discussão, não pelo resultado em si, mas sim pelo comportamento hostil dos atletas do FC Porto dirigido à equipa de arbitragem. Podemos focar em dois exemplos claros: o comportamento dos atletas aquando da expulsão de Francisco Conceição, em que não só o jogador, mas também outros colegas (por exemplo, Pepe), aplaudiram ironicamente o árbitro e trocaram algumas palavras com ele após a sua decisão, e o final do jogo com tudo o que se gerou.

Não devemos encarar o desporto como um contexto violento, mas sim como um verdadeiro caldeirão de emoções e a competição, em particular, como uma oportunidade única de análise da essência humana. Não pretendo com este texto justificar qualquer comportamento agressivo, mas sim contribuir para a sua compreensão, reforçando que compreender as suas causas está longe de ser sinónimo de aceitar a sua expressão. Importa compreender a razão pela qual surgem estes comportamentos não raramente contra as equipas de arbitragem.

A agressividade pode ser expressa de forma verbal ou física, e os comportamentos agressivos podem ser distinguidos entre agressividade instrumental e agressividade hostil. Quando nos focamos na agressividade contra as equipas de arbitragem, estamos a falar de agressividade hostil, pois não existe um ganho reflexo desta agressividade; como tal, o objetivo final é infligir dano no outro (mesmo que não fisicamente). Este tipo de agressividade trata-se de uma agressividade reativa e, na sua generalidade, é desencadeada pela frustração e pela raiva.

A relação entre a frustração e a agressividade é amplamente estudada e inclusive é determinada a nível neural. Em termos desportivos, a frustração ocorre quando os atletas percebem que entre si e o seu objetivo existe um elemento bloqueador. Quando os atletas percebem (mesmo que erroneamente) existirem decisões erradas, a equipa de arbitragem passa a ser encarada como esse elemento bloqueador ou frustrador e, como tal, o comportamento agressivo é dirigido a si. A importância do resultado, a turbulência do contexto, a injustiça percebida e o estado emocional negativo dos atletas são ingredientes extras que colocam este caldeirão em ebulição. Apesar de o comportamento agressivo perante acontecimentos frustrantes ser esperado pela natureza humana em determinadas circunstâncias, isto não significa que enquanto sociedade o devamos aceitar; pelo contrário, deve ser regulado através de regras e punições claras, de forma a evitar reincidências.

QOSHE - Competição… Um Caldeirão de Emoções - Liliana Pitacho
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Competição… Um Caldeirão de Emoções

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04.04.2024

Devemos encarar o desporto como um verdadeiro caldeirão de emoções e a competição como uma oportunidade única de análise da essência humana.

O jogo desta semana entre o Estoril e o FC Porto tem gerado muita discussão, não pelo resultado em si, mas sim pelo comportamento hostil dos atletas do FC Porto dirigido à equipa de arbitragem. Podemos focar em dois exemplos claros: o comportamento dos atletas aquando da expulsão de Francisco Conceição, em que não só o jogador, mas também outros colegas (por exemplo, Pepe), aplaudiram ironicamente o árbitro e trocaram algumas palavras com ele após a sua decisão, e o........

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