O treinador do Sporting tem gerido os tempos com mestria e os sportinguistas já perceberam que ele sairá mais facilmente se for campeão

Cada treinador tem a sua forma de gerir a carreira. Há os que acham ter pouco tempo a perder e aceitam a primeira oferta que lhes prometa uma subida imediata na escadaria do sucesso; há os que nada decidem porque nunca conseguem sair de cima do muro e veem permanentemente a bola rolar dos dois lados; e depois há aqueles como Rúben Amorim, que de inseguro nada tem mas de impaciente também não.

O trajeto como técnico ainda é curto, mas tem sido coerente. Conheço poucos que teriam a audácia de recusar treinar a equipa sub-23 do Benfica quando a alternativa era o desemprego e pouco tempo depois de concluir uma carreira de jogador longe de ser daquelas que garantem uma reforma dourada. Não aceitou porque foi-lhe comunicado que a tática e outras orientações seriam emanadas de cima. Uma lógica legítima, mas não aceite por todos.

Mais tarde, já depois de se sagrar campeão pelo Sporting, terá recebido convites tentadores, mas entendeu que ainda não estava devidamente preparado. Continuar em Alvalade não era apenas uma questão de lealdade para com Frederico Varandas e Hugo Viana, mas também a melhor forma de sedimentar as suas ideias como treinador e (porque não) aprender com os erros.

Chegados aqui, cinco anos depois de ter agarrado o comando da equipa, começa a desenhar-se no horizonte a possível saída pela porta grande. Se for campeão (duas vezes em cinco épocas), acredito que Rúben Amorim desta vez estará mentalizado para o passo seguinte. Porque, ao contrário de muitos, soube ter uma paciência tão grande quanto a convicção nas suas capacidades.

Lendo que o Manchester United pensa nele como eventual sucessor do atual treinador, é curioso recordar o que disse Amorim em novembro de 2021, quando o seu nome já circulava como putativo candidato ao cargo, numa lista onde estava o treinador do Ajax: «Se me permitem a opinião, penso que o Manchester United deveria levar o Ten Hag ainda esta semana, seria algo que me deixaria bastante contente.»

O contexto era o de uma disputa com os neerlandeses pela qualificação para os oitavos de final da Liga dos Campeões (o clube de Amesterdão fez o pleno de vitórias na fase de grupos mas viria a ser eliminado pelo Benfica), mas percebia-se que aquele ainda não era o momento para ele.

Acredito que muitos adeptos do Sporting já terão percebido que mais facilmente Amorim sairá se ganhar do que se perder. Perdendo o campeonato, o próprio pode colocar o lugar à disposição (tal como já admitiu fazê-lo), mas Varandas não aceitará; vencendo, a força inexorável de uma Premier League irá impor a sua lei.

E é precisamente a conquista do campeonato por parte do Sporting que pode criar um efeito de arrastamento nos concorrentes diretos: a derrota podem pender de forma muito pesada sobre Roger Schmidt, cuja popularidade tem vindo a cair; e Sérgio Conceição revela sinais gritantes de desgaste que talvez o aconselhassem mesmo a uma pausa.

Há muito tempo que não se imaginava a possibilidade de os três grandes mudarem de treinador no mesmo defeso, algo que aconteceu pela última vez há exatamente 20 anos, quando Del Neri entrou no FC Porto, Giovanni Trapattoni no Benfica e José Peseiro no Sporting. Um cenário que só ganha muita força em 2024 se Amorim ganhar. Tal como em 2004, quando saiu José Mourinho. Para quem acredita em ciclos perfeitos…

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Rúben Amorim: a arte de saber esperar

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27.03.2024

O treinador do Sporting tem gerido os tempos com mestria e os sportinguistas já perceberam que ele sairá mais facilmente se for campeão

Cada treinador tem a sua forma de gerir a carreira. Há os que acham ter pouco tempo a perder e aceitam a primeira oferta que lhes prometa uma subida imediata na escadaria do sucesso; há os que nada decidem porque nunca conseguem sair de cima do muro e veem permanentemente a bola rolar dos dois lados; e depois há aqueles como Rúben Amorim, que de inseguro nada tem mas de impaciente também não.

O trajeto como técnico ainda é curto, mas tem sido coerente. Conheço poucos que teriam a audácia de recusar treinar a equipa sub-23 do Benfica quando a alternativa era o desemprego e pouco tempo depois de concluir uma carreira de jogador longe de ser daquelas que garantem uma reforma dourada. Não aceitou porque foi-lhe comunicado........

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